domingo, 18 de dezembro de 2016






- Meu bem, acorda que tá na hora -, cutucou a Morte na madrugada, fiel a seu princípio de nunca carregar pros quintos alguém que esteja dormindo.






terça-feira, 31 de maio de 2016







Cirurgia.
Dermoabrasão.
Fototermólise.
De esgueio, sempre que possível, lia sobre os mais diferentes métodos de remoção de tatuagem nas revistas de variedades e sites de beleza.
Todavia, silenciada e imobilizada como estava, pouco podia fazer a respeito.
E assim seguiu a sina de viver cada dia aguardando a hora da morte e o trabalho dos vermes para, enfim, poder renascer, a pobre fênix multicolorida encarcerada no dorso da trapezista.







quarta-feira, 25 de maio de 2016






Amava-a tão profundamente que arrancou-lhe a carne dos ossos e deu de comer aos porcos. O esqueleto ele torrou e moeu, depositando o pó nos tanques onde descansava um lote de baltic porter recém-fermentada. Envasou-a em garrafas de 500 ml e bebeu a primeira ao fim de uma tarde gelada de maio. Venceu todos os concursos dos quais participou com aquela cerveja. Animado, repetiu o mesmo procedimento com Ivone, Sandra, Pilar e Ana Beatriz, sem entretanto alcançar sucesso similar. Nada que o surpreendesse, pois sabia que jamais haveria mulher como Marilda.






quarta-feira, 20 de janeiro de 2016







Gervásio e Vantuil debateram por horas no balcão do botequim sem chegar a termo. A lua já ia alta quando o segundo desistiu e, jogando a foice nas costas, disse, peremptório:
- Se eu for no seu enterro, ocê num vai no meu. E se ocê for no meu, eu num vou no seu.
E saiu cambaleando pelo poeirão da estrada, certo de que há coisas nessa vida que se deve aceitar sem muita celeuma.











Quando Wilson resolveu abrir a boca houve maremotos e chuva de fogo e gafanhotos gigantes a devorar as plantações e a terra se abriu para engolir as montanhas por todas as partes do mundo. Sentada à mesa da cozinha, chaleira apitando, boca aberta e olhos vitrificados, Ivanete entendeu enfim porque o marido jamais dizia o que pensava.