terça-feira, 26 de maio de 2015






Ela jura que foi o livro do Kafka embaixo do braço dele no ponto de ônibus.
Ele insiste que foi o perfume que experimentou na loja e jamais comprou.
Enquanto essa for a principal desavença entre eles, vão sendo felizes para sempre.






quarta-feira, 20 de maio de 2015






O cartão comprado na papelaria do centro, oferecido com palavras de amor em letra cursiva, pendurado no pescoço do cachorro para escárnio de todos.
No último box do banheiro masculino, Felipe jura entre soluços seu último choro por uma mulher.
Do fundo de seus 9 anos incompletos, não sabe o quanto está errado.






quarta-feira, 13 de maio de 2015






A cada vez que o repórter perguntava por que o velho resolvera viver sozinho naquela choupana no alto da serra da Ilha do Cardoso, a 23 quilômetros da comunidade caiçara mais próxima, ele desconversava e voltava a falar da invasão de especuladores com a desculpa de pesquisar ruínas do período colonial. Só por isso aceitara dar entrevista. A perna do velho atada com corda de bananeira e gravetos de quaresmeira, o repórter:
- Quebrou?
- Num sei. Mas tem conserto.
- Tem?
- Fio, pra quase tudo nessa vida tem remendo. De menos pro que palavra quebra.





quarta-feira, 6 de maio de 2015







Carolina não via Vanderlei há trinta anos. Quando ele apareceu na porta de sua casa, beijou-a, entrou por baixo de seu vestido - a porta da rua aberta - e voltou para o carro para dirigir quatrocentos quilômetros de volta para sua mulher e filhos, ela entendeu que saudade é um troço que a gente pega, mata e come.