segunda-feira, 30 de setembro de 2013






'Se não tá bom, passa no DP e pede as contas.'
'Diminui esse ar-condicionado.'
'Maior corno viúvo da cidade inteira.'
'Aumenta esse ar-condicionado.'
'Esse ano não dá não, pai. Vamo ver ano que vem.'
Isso tudo retumbando na cabeça enquanto ele virava lentamente o volante pra esquerda, explodindo o ônibus e seus 48 passageiros contra um caminhão cegonha na BR-040.

O pessoal acha que ele cochilou.






quarta-feira, 25 de setembro de 2013






Também, esperar o que dum sujeito de nome Feio?
Fédaputa trabalhou quatro dias e já me levou na Junta.
Mas deixa.
O que é dele tá guardado, enrolado em jornal embaixo do banco da Brasília.
E carregado.






terça-feira, 24 de setembro de 2013






Agora a vida parecia simples.
Tudo de que sempre precisara fora alguém que a levasse para passear.

De preferência em Paris.






segunda-feira, 23 de setembro de 2013






era 1994 e as boas-vindas da pequena e relapsa cidade grande só foram dadas no domingo à noite

era preta de pele russa e calcanhares rachados

mais com os olhos amarelos que com a boca semicerrada, murmurou de passagem:

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- moço, quer me comer?












Os peitos, meio muchibinhas.
Mas ainda respondiam a estímulos.
Para os dois desgraçados, era o que importava.





quarta-feira, 18 de setembro de 2013






Aí viu que absolutamente toda mulher queria ser comida.
As magras.
As chefes.
As gordas.
As feias.
As faxineiras.
As bonitas.
As tetraplégicas.
As putas.
As lésbicas.
Só não queriam é ser comidas por ele.









Seu Rosário já tinha morrido há mais de mês.
Mesmo assim a desgraça do galo continuava a esganiçar bem no meio da noite.
Desorientado do cacete.










À minha direita um aperta seu bagulho; à minha esquerda um outro estica sua taturana branca sobre o cartão de crédito; e eu, impávido monte de osso, maçã na boca, mijo antes que o estrondoso mi bemol marque o início de mais um fim de tudo.





quarta-feira, 11 de setembro de 2013






Primeiro ele enfiava o punhal no suvaco do bicho.
Depois aparava o sangue com uma caneca de esmalte.
Aí se levantava e bebia tudo de uma veizada só, ainda quente.
Então olhava pra nós, os olhos verdes faiscando, a dentadura arreganhada e rubra, o bigode escarlate-suíno, melado, gotejando.

E a gente achava uma graça danada.





terça-feira, 10 de setembro de 2013






Com Verônica era um lance sempre impressionista, furioso, fugidio, esparramado.
Géssica era outra parada. Mais renascentista. Uma retomada dos valores clássicos. 
Boa menina.
Não derramava uma gota.






segunda-feira, 9 de setembro de 2013






um dia sonhou que cada palavra tinha um recheio


e teve que quebrar uma por uma para saber o que havia lá dentro










Agora caminhávamos ali à beira do rio, dois estranhos apartados por um silêncio constrangido, lábios cerrados, bocas secas (embora ela conhecesse como ninguém o sabor daquilo que meu corpo produzia de mais puro).





quinta-feira, 5 de setembro de 2013






¡R I I I N G, R I I I N G!

- ¡Hola!
- Hola, soy yo.
- Ah, ¿no te he dicho que dejes de llamarme?
- Sólo quiero que escuches una última cosa antes de que te vayas de Zaragoza.
-... Bueno, ¿qué?


¡ B A N G !


Com o auxílio luxuoso de Joana Gonçalves





quarta-feira, 4 de setembro de 2013






O problema de matar criança ele resolveu depois que o negócio engrenou. A fama correu e ele começou a cobrar por quilo, então não valia a pena pegar o serviço.
E nem era porque não conseguia puxar o gatilho, que profissional igual aquele ali eu nunca tinha visto, não tremia um nada.
O negócio era depois.
Diz que dava nele uma gastura que não passava nem com meilitro de leite de magnésia.





terça-feira, 3 de setembro de 2013






Foi ali, fumando um cigarro no balanço do parquinho do restaurante, que a ideia lhe atravessou o cérebro deteriorado como um estilhaço de parabrisa.
Teria se poupado de metade das encrencas se tivesse batido mais punhetas.