segunda-feira, 23 de novembro de 2015







Ali convidou a rapaziada pra beber em sua casa naquela tarde. Lá pelas tantas, chapado de soberba e arak, teve um arroubo exibicionista e decidiu revelar um segredo guardado pela família há séculos. Assim, baseado apertadinho entre os dedos, flutuou diante da plateia incrédula em seu tapete mágico. Esquecera-se, porém, da sujeira varrida para baixo da miraculosa alfombra ao longo de todos aqueles anos, e a visão de tanta imundície deixou os presentes bastante constrangidos.






segunda-feira, 16 de novembro de 2015






- Quem era, amor? - gritou Melissa da cama.
- Testemunha de Jeová. - respondeu Tadeu a caminho do quarto.
- E aí?
- E aí que eu abri a porta e tinha duas mulheres e elas ficaram me olhando sem falar nada, meio espantadas, sabe? E foram embora correndo.
- Por que será? - perguntou Melissa antes de abocanhar o espantalho ainda duro e lustroso de saliva.







sexta-feira, 13 de novembro de 2015






única tatuagem, uma estrelinha solitária na nuca:
fagulha última do fogaréu que sobe desde o rabo.






quinta-feira, 5 de novembro de 2015






Para cortar caminho até a igreja, Dona Eulália, professora matrona da escola da vila, passa pelo cemitério. Leomir preferiria ficar sem os cartuchos da coroação a pegar o atalho. Mas ela insiste, puxando o sobrinho pela mão, carrapichos a salpicar as anáguas. Metida a intelectual, leciona sobre os cadáveres:
- Anda, menino! Mortos não pensam, logo não existem.
E Leomir, como se não bastasse o assombro das catacumbas, agora teme a tia que lhe descarta os medos. "Velha doida."