quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015







Quando Gustavo enfiou sua moto embaixo de um caminhão, levou três semanas para alguém começar a acreditar realmente que ele sobreviveria. Quatro meses depois ele saiu do hospital em uma cadeira de rodas, com pinos e parafusos cravados em todas as partes do corpo e armações de ferro expostas em suas coxas e canelas. Mais dois anos e ele já estava jogando futebol uma vez por semana. Até hoje Gustavo acha que não limparam direito sua testa quando o costuraram, então tem a impressão de que há pequenos cacos de vidro e micropedrinhas por baixo da pele. Nas primeiras noites após sair do coma, ele ouvia algo como uma porta rangendo dentro da cabeça, mas ninguém nunca soube precisar o porquê. O barulho continua, noite após noite, mas hoje ele nem reclama mais, pois sabe que é a Morte a rilhar os dentes de raiva por tê-lo deixado escapar.







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