quarta-feira, 25 de março de 2015






Na mesa do café, entre os intervalos dos ensaios, ela costumava elogiar minhas mãos. "Mãos de maestro", dizia, deslizando seus dedos sobre os meus. Enquanto esmago sua traqueia com mãos de executor aqui nesse quartinho, vejo silenciarem seus olhos de soprano.
Lá fora, a plateia espera.






quarta-feira, 18 de março de 2015






Bráulio montou um bar na sala de casa. E no Bar do Bráulio tinha tudo. Scotch de oito, dez e doze anos. E bourbon do Tennessee. E cerveja ele mandou trazer de 23 países diferentes. E tinha as nacionais também. E cachaça de Salinas, Parati, Viçosa e São João Nepomuceno. Então ele convidava o pessoal, e tinha jiló frito, linguiça de Rio Pomba, tapas, tacos e nachos. E a música também era boa naquele iCoisa dele.
No Bar do Bráulio tinha tudo que tem num bom bar de verdade.
Só não tinha o acaso.






quarta-feira, 11 de março de 2015






Josimar foi criado no estalo de folhas de fumo e na capina dos cafezais. Aos 8 juntou troco pra comprar chuteira. Nas peladas de domingo pelejava pra dar o laço no calçado, mas não conseguia da forma convencional. Então inventou seu próprio jeito de fazer a amarração. Hoje dono de uma loja que vende e aluga vestidos de noiva, é conhecido pelos mais perfeitos laços de cintura de toda a cidade. Às vezes, à noite, silencioso no quartinho dos fundos de casa, continua tentando aprender, em vão, o jeito tradicional de se atar um cadarço. É que não aceita que algumas pessoas nascem para aquilo, e outras, para isso.






terça-feira, 10 de março de 2015






Quando acordou, o dedo em riste estava lá: - Você    n  u  n  c  a    pula Dazed and Confused, tá certo?






terça-feira, 3 de março de 2015







... e nunca mais fitarei seus olhos, pois quando eu tornar a esta metrópole envenenada por cimento e chumbo, você os terá arrancado para não me ver chegando vestido de chão.












Deliciosa essa sua boca mentirosa.