terça-feira, 28 de julho de 2015






Transformada em vaca por Zeus, Io agora vive das oferendas que as empregadas domésticas de Juiz de Fora lhe oferecem anualmente em uma cerimônia secreta nos pastos de Monte Verde. É quando ela se sente novamente querida e digna de devoção, honrada pelas broas de fubá, cumbucas de feijão tropeiro e panelas de frango ao molho pardo. E mais que as iguarias, ela se delicia com as pequenas fofocas que aquelas moças pardas trazem das cozinhas de madame nos condomínios da Cidade Alta.





W. Del Guiducci, depois de Neil Gaiman

terça-feira, 21 de julho de 2015







- Está vivo! Está vivo!!!, berrou Deus ao ver Adão se levantar. E ficou tão apavorado com o horror que criara que fugiu em disparada para nunca mais ser visto.














Lá do quarto eu ouvi a voz da minha vó. Meus irmãos dormiam pesadamente. Eu me levantei do colchão de capim e caminhei até a cozinha. Sentado no banco, meu pai que era preto tremia esbranquiçado, olhos parados, boca aberta, enquanto a vó lhe servia chá de melissa na caneca de esmalte branco - disso eu nunca me esqueci. O homem tremia igual vara verde. A vó me viu espreitando e, com um aceno de cabeça, ordenou que eu voltasse pra cama.
O que houve nós jamais soubemos, mas nunca mais o velho botou o nariz pra fora da porta depois de o sol se deitar.













Na noite insone, mesmo o último carneiro já adormeceu. Contas fechadas, ele então percebe: é a fome de lobo, vibrando surda nas tripas, que não o deixa dormir.













- Ok, então tira tudo. Menos os óculos, que é procê ver a merda que tá fazendo.







quarta-feira, 1 de julho de 2015






Zé Maria tem visto o pai todas as noites. Ele entra no quarto, senta-se ao lado do filho e coloca a mão sobre seu corpo, como fazia para acordá-lo quando criança. A diferença é que, naqueles tempos de escola, as unhas do Seu Altivo não estavam sujas de terra. O Zé nem liga mais, mas não vê a hora de chamar um padre pra benzer a casa. Está só esperando o cadáver do velho parar de feder sob as tulipas que plantou no quintal.











e a moça finalmente reconquista o moço:
- ... nada como um dia atrás do outr
- e eu atrás de você como outro dia.
- ai! que raiva! você nem me deixa falar! ... tarado.